02 abril 2011

Fator Real: Mal De Alzheimer





Uma situação como essa já pode até ter acontecido com você: está na rua, alguém vem falar com você, demonstrando ser um velho conhecido, e você não tem a menor idéia de quem é aquela pessoa. À medida em que você vasculha sua memória, tentando ter uma pista de quem possa ser o tal conhecido, você vai ficando cada vez mais angustiado, ansioso, embaraçado e desconfortável.
Agora imagine como seria se isso acontecesse durante a maior parte do tempo, com a maior parte das pessoas que você encontrasse durante um dia. É o que acontece com quem tem a doença de Alzheimer.
O paciente com Alzheimer em um estágio avançado tem uma grave perda de memória, principalmente em relação à memória recente. Isso que dizer que ele pode lembrar de cada detalhe de um acontecimento de quando ainda era criança, mas não lembrar que aquela criança que veio visitá-lo de vez em quando é seu neto. Aliás, pode ser que não lembre nem que já viu aquela criança.
Mas o Alzheimer vai além do “simples” não reconhecimento de pessoas próximas. A falta de memória prejudica todos os aspectos do dia-a-dia. Já comi ou não? Na dúvida, come de novo, esquecendo que almoçou há menos de uma hora. E o peso aumenta… Que dia é hoje? É manhã, tarde, fim de semana? Já devo ter tomado banho. Porque você está me explicando isso que eu já sei? Porque um segundo atrás você não sabia e perguntou o que era…
Não deve ser nada fácil ter a doença de Alzheimer, principalmente no início, quando ainda se tem consciência dos esquecimentos e falhas. Mas, à medida que a doença avança, passa a ser cada vez mais difícil conviver com o paciente. É difícil ver uma pessoa querida perdendo sua identidade, sua autonomia, sua independência.
Por causa da minha profissão, convivi algumas vezes com pacientes com Alzheimer. Era fácil perceber o quanto  a doença prejudicava a vida do paciente e como ela envolvia todos os familiares, amigos, cuidadores. Mas nem o que aprendi na teoria, nem esse convívio eventual, fez com que eu soubesse exatamente como seria a realidade de acompanhar um caso muito próximo -- e acredito que isso aconteça com outras pessoas também.
Na realidade, meu avô não tem Alzheimer. Ele tem demência fronto-temporal. Na teoria, as duas têm pequenas diferenças. Na prática, essa diferença passa a ser mínima, imperceptível, à medida em que a demência avança.
Infelizmente, a doença não tem cura, nem prevenção. Existem formas de retardar seu início ou de fazer com que se desenvolva mais lentamente. Estimular a memória e o raciocínio, alimentar-se bem e praticar atividades físicas ao longo da vida são algumas delas. As formas de tratamento -- paliativo -- também são variadas: medicamentos (inclusive a possibilidade do uso precoce de antibióticos ), fisioterapia, terapia ocupacional, fonoaudiologia e outras, dependendo dos sintomas e dificuldades que forem se apresentando. Mas acho que nada é tão importante quanto carinho, respeito e paciência.

Fonte: http://renatapinheiro.com/